segunda-feira, 25 de julho de 2016

A minha entrada na UAL

Quando entrei na UAL, não conhecia ninguém, ainda pra mais entrei tardiamente (no final de Outubro, quando já tinham terminado as praxes e o aniversário do meu irmão - evento que nunca perdia - nem perco!)... Acho que sentia medo por esta nova fase da minha vida: ir para uma escola que não era "escola", era "Universidade", onde toda a gente falava bonito e eu tinha sotaque e para uma cidade que era SÓ a capital de Portugal, com muito trânsito, com muitas histórias de assaltos e roubos, enfim, um mundo completamente diferente do que eu conhecia na minha santa ilhinha. Isto para quem viveu até aos 15 anos no Nordeste (onde se brincava na rua, onde a casa do vizinho era familiar, onde a chave de casa estava sempre na porta), e mais 3 anos em Ponta Delgada, que era (e ainda é!) uma cidade pacata e familiar, para uma pessoa que sempre viveu com os pais, na proteção familiar, é uma mudança assim um tanto radical. Mas pronto, fiz-me forte (e fui empurrada pelos meus pais!) e lá fui eu...

O meu primeiro dia na UAL foi péssimo... Sim, foi a Universidade que eu escolhi (podem ler a minha escolha clicando aqui!), mas não estava preparada para tal (acho que nunca ia achar estar...). Nesse dia de finais de Outubro, acordei às 6h30 da manhã (as minhas aulas começavam às 8h) cheia de medinho pelo dia que tinha pela frente... Sai de casa e fiz exatamente como o meu pai me tinha ensinado - fui para a paragem de autocarro esperar pelo 20 ou 22 (a dada altura mudou o nº!) que ia de Alcântara até ao Aeroporto e passava muito próximo da UAL. Foi esse o autocarro que utilizei durante 3 anos. Durante o caminho fui muito atenta à estrada, pois não queria correr o risco de sair na paragem errada e pedir por socorro! Eu estava sozinha e sentia-me tão, mas tão perdida que nem fazem ideia. A viagem correu bem e eu sai na paragem correta! Era na Av. Duque de Loulé... Sai e fui direta à UAL, seguindo as coordenadas para a sala de aula. Fui a primeira a chegar. Quando cheguei à sala, encostei-me o mais próximo da porta da sala de aula, que estava aberta, e ali fiquei tipo uma "triste"! Passou um bocadinho e os meus colegas começaram a chegar, uns sozinhos, outros em grupo (a maioria já tinha os seus grupos de amigos!) e eu ali permaneci caladinha. Sim, porque também tinha o "problema do sotaque", e se não me percebessem quando falasse?!
Entretanto chegou uma rapariga sozinha para perto da porta como eu (se calhar com os mesmos medos que eu!) e começou a falar comigo sobre banalidades. Não me lembro do nome dela, só me recordo que era um nome muito esquisito, por isso ainda dificulta mais lembrar-me dele. Ela parecia-me ser espanhola pelas roupas que usava, cheias de folhos e com uma certa exuberância. Apesar de não ter nada a ver comigo, foi a primeira pessoa simpática comigo. Sentei-me ao lado dela e cheguei a ir até à baixa com ela num outro dia, mas depois ela desapareceu do mapa sem deixar rasto (como 60% dos colegas da turma que nunca chegaram a terminar o curso) e nunca mais a vi...
A primeira aula que assisti foi de Cultura Inglesa. A professora debitava literalmente a matéria toda. Usava uns cartões tipo apresentadora de TV e lia um atrás do outro, nós apenas tentávamos acompanhar... para mim foi bastante difícil consegui-lo... Valeu-me um gravador que posteriormente comprei e que gravava toda a aula para depois em casa poder passar a aula a limpo e também ter-me sentado a partir de certa altura ao lado da delegada de turma, a D., que por já ter vindo aos Açores, sentiu uma empatia pelo meu sotaque. Aos pouquinhos (muito devagarinho mesmo!), fui-me ambientando à Universidade, aos meus colegas e às aulas. Mas participar nas aulas era uma coisa que raramente fazia, com receio que não me percebessem...

1 comentário:

  1. Gostei imenso de ler este texto. :) Lê-lo deu-me uma perspetiva muito diferente das coisas porque, no meu caso, as coisas passaram-se exatamente da forma oposta. :)
    Vê-se perfeitamente que tiveste uma infância muito feliz e que és muito ligada à tua família e, quando leio estes textos, desejo sempre que as minhas filhas se sintam assim em relação "a casa".
    Não é que eu não seja ligada à minha família mas, quando fui viver para Lisboa (com 500 euros no bolso que era tudo o que tinha, sem emprego e com duas malas) para viver num quarto alugado com duas desconhecidas (de quem não fiquei amiga tamanhas eram as diferenças dos nossos feitios) fui com toda a felicidade do mundo. Tudo o que queria era fugir da minha terra. Não tive nenhum trauma nem uma razão específica para isso mas sempre sonhei viver o mais longe possível do sítio onde cresci. Nunca me identifiquei com a mentalidade da vila onde cresci que me oprimia constantemente. Recordo o dia em que apanhei o comboio para o desconhecido como o primeiro dia de uma vida muito feliz. Lembro-me que todo o desconhecido, as procuras de trabalho, o convívio com as pessoas mais estranhas que podia ter visto, me divertiam imenso e me davam sensações muito boas.
    Ao mesmo tempo que me lembro da felicidade que senti a afastar-me de "casa", sinto um desejo enorme de que as minhas filhas nunca sintam esse desejo em relação à sua "casa". :) Um bocadinho contraditório mas é isso.

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