sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Foi esta noite...

Foi ontem à noite a primeira vez que ela dormiu sozinha, sem mim... Ela tem 2 anos e 10 meses. Só a deixei dormir fora porque sabia que ia ficar bem. E ela ficou bem. Está habituada aos meus pais, que são aqueles que estão com ela, às vezes mais tempo do que eu em virtude do meu trabalho. Esta treta de mães trabalhadoras faz com que os nossos filhos passem mais tempo longe de nós do que connosco... E a minha M. é uma sortuda porque, pelo menos por enquanto, fica com os seus avós que a tratam tão, mas tão bem, com imenso amor e dedicação. Imagino as outras crianças que têm mesmo de ficar na creche/escola um dia inteiro, enquanto os pais (escravos do trabalho) têm de lutar pela sua sobrevivência...

Li algures este texto que me comoveu e me fez querer mudar o mundo pela minha filha, pelo tempo que gostaria de estar com ela... Deixo-o aqui para pensarem sobre o assunto...
"Ainda não percebi bem o que querem de mim...
Nasci porque a minha mamã queria ser Mãe e o meu papá queria ser Pai.
Mas não pensaram se eu quereria ser o filho deles a tempo inteiro.
E eles, afinal, não tinham tempo para mim.
Mas fizeram-me nascer na mesma.
Agora sou bebé, passo 8 ou 9 horas por dia na creche, até que a minha mãe (quase sempre) ou o meu pai, me venham buscar.
Chego a casa cansado, bem como os meus pais; eles olham para mim, dizem blá-blá-blá, eu rio-me, eles também e depois metem-me na cama.
Ando assim 5 ou 6 anos.
Depois começo a frequentar a escola.
Entro logo de manhã, às vezes debaixo de chuva, vento e muito frio e estou dentro da escola, 6 ou 7 horas, até que a minha mãe (quase sempre) me venha buscar.
Em casa, faço os TPC's., com a ajuda possível dos meus pais, que estão cansados, frustrados, revoltados com o trabalho, cujos salários mal dão para vivermos com dignidade, até que chega a hora do jantar, feito pela minha mãe.
Depois olham para mim, com os olhos cansados, mas ainda com energia para dizerem blá-blá-blá. Eu ainda me rio, eles também, lavo os dentes e vou para a cama.
Ando assim mais 4 anos.
Entro na escola secundária. Tenho muitos professores e muitas disciplinas. Fico lá 6 ou 7 horas, até tocar para a saída.
Nos primeiros tempos ainda espero pelo meu pai (é ele que tem o carro) e vou para a casa.
Mas, alguns 3 ou 4 anos depois, já regresso sozinho.
Apanho os transportes públicos, cheios de adultos que até me pisam para entrarem primeiro do que eu, mostro o "passe" e chego a casa, cansado! Beijo o meu pai, também cansado, beijo a minha mãe que está na cozinha, também fatigada e tento fazer os TPC's. Por vezes adormeço e muitas vezes não consigo fazê-los.
E então já sei que os professores vão escrever um "recado" ao meu pai. E depois vou ser castigado.
Mesmo que esteja cansado! No dia seguinte, o professor grita comigo e pergunta se os meus pais não têm tempo para me dar educação.
Eu não respondo, mas apetece-me!
Alguns dos meus colegas, respondem!
E os professores dizem que não são educadores.
Que os educadores deviam ser os pais.
Só que os professores estão comigo 7 horas por dia, se não faltarem às aulas.
Os meus pais, estão comigo, talvez, 2 ou 3 horas por dia, o resto é para comer e dormir.
Fico a pensar, quem é que me poderá educar?
Acho que os adultos estão loucos!
Vou começar a fazer uma birra!
Talvez me olhem de outra maneira...
Acho que vou começar a fumar nas traseiras da escola.
Está lá a malta da turma.
Eles até não se importam de "partilhar aqueles cigarros que eles próprios fazem".
Eles dizem que aquilo é um paraíso. Talvez experimente.
Os professores não vão dizer nada porque não são meus educadores.
Os meus pais não vão dizer nada porque na escola ninguém tem obrigação de me vigiar e em casa os meus pais estão cansados e só estão comigo (acordados) 2 ou 3 horas.
Os adultos dizem que eu sou mal-educado mas não é verdade, eu não tenho mesmo nenhuma educação.
Porquê?
Porque os adultos não têm tempo!
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NOTA:
Não tenho nada contra os Pais ou os Professores, mas tenho contra esta Sociedade desequilibrada!"
(texto - autor desconhecido)

A ausência dela lá em casa por tanto tempo é complicada... Senti falta da televisão ligada no Panda, dos gritinhos e dos sorrisos dela pelos cantos, de ouvi-la chamar por mim "mãe" ou "mamãe" (como às vezes chama, fruto dos desenhos animados brasileiros que vê!) 1000 vezes ao dia, do ter de lhe dar o jantar a horas, do banho, de contar-lhe histórias, de fazê-la dormir, de ao acordar não ter a televisão ligada para ela ver o primeiro episódio do dia da "Masha e o Urso",... tudo, tudo foi difícil... Acreditem ou não, eu ouvi-a chamar por mim algumas vezes... (não fui ver se era ela! Não pensem que fiquei louca!). Mas sei que ela ficou bem, adormeceu bem, acordou pelas 8h30 bem "dormida" e bem disposta (se tivesse dormido em casa teria de acordar mais cedo!)... E eu, mesmo com o coraçãozinho pequenino, aproveitei para limpar a casa, fazer comida (sopa, 2ª prato e sobremesa para ele hoje!), tomar um longo banho e ver os episódios da "Anatomia de Grey" que ficaram por ver da última quarta-feira (porque também sou filha de Deus!)... Tudo para hoje e este fim-de-semana ter todo o tempo do mundo só para ela, para estar com ela e para lhe encher de beijos e abraços doces como ela...

Apesar de saber que foi o melhor para ela, adormeci e acordei a pensar nela... É um Amor que não se explica...
*é bom que ela tenha uma "segunda" casa onde possa ficar, sem ser a nossa (não sabemos o dia de amanhã!), mas mesmo assim não compreendo como há pais que deixam os filhos "por aí" dias e dias seguidos...

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