A minha avó era uma senhora muito vaidosa... Adorava brilhantes, às vezes em exagero, mas como dizia o outro "gostos não se discutem". Sempre que havia um evento especial, ela aperaltava-se de tal maneira que toda a gente admirava o seu modelito. Às vezes, em tom de brincadeira, dizia-lhe que ela era uma espécie de Rainha de Inglaterra cá do sítio. E ela sempre admirou a família real britânica. Quando a Lady Di morreu, ela chorou como se da sua família se tratasse. Na cómoda do seu quarto ela tinha uma fotografia da família real junto às restantes fotos da família, tal era a idolatração.
Realezas à parte, ela dizia muitas vezes que era de "sangue azul". Era filha do Sr. Melo. Antigamente, quem tinha uma loja, como o meu bisavô tinha, que acho que era mais uma espécie de tasca com mercearia, era uma pessoa importante, pelo menos na freguesia. Um dia, questionou-me se eu não tinha orgulho de ser descendente do Conde não sei das quantas... Eu nem sabia disso! Respondi-lhe que só teria algum orgulho, se ele me tivesse deixado algo, mas como não me deixou nada, o título não me diz nada. É exatamente igual ao Dr. A, B ou C que não é médico, mas teima para que o chamem Dr.!!! Não me diz nada! E só porque sou uma pessoa educada, lá chamo A, B e C de Dr. O que eu penso fica mesmo comigo...
A minha avó adorava, pelo menos até ir para o Lar, ver telenovelas brasileiras. Sempre que ia visitá-la à sua casa, que agora é onde vivo, estava ela a devorar telenovelas brasileiras. Começava à tarde e só terminava à noite. Via-as todas. E sabia o nome daquela gente toda. Os nomes das personagens e o nome deles na vida real. Nas visitas que a fazia, ela era bem capaz de resumir as novelas todas. Bastava dizer "Quem é este?!" e pronto lá ficava a conhecer o enredo todo. Como passava o dia sozinha, quando alguém a visitava, aproveitava-se para falar, falar, falar tudo aquilo que não tinha falado antes. Herdei o gosto pelas telenovelas brasileiras, embora não acompanhe nenhuma hoje...
Entre outras coisas, havia uma coisa que eu admirava na minha avó: a forma como ela estendia roupa. E, acreditem ou não, em 10 vezes que estendo roupa, 10 vezes me lembro dela. Ela combinava as molas com a cor das roupas. E, se era eu que punha a mola errada, ela vinha atrás de mim e trocava a mola. Aquilo era caso para não dormir bem, digo eu!...
Outra coisa que admirava nela era o perfecionismo que ela sempre teve. Antes da morte do meu avô, ela bordava. Chegou a fazer toalhas e toalhas e também sabia costurar. E quando algo estava roto, ela dava sempre um jeitinho. As costuras dela eram reconhecidas a léguas, pelo menos por mim. Os pontinhos eram tão bem dados, tão simétricos que, quem olhasse poderia apostar que tinham sido feitos à maquina. Ela era muito minuciosa, às vezes até de mais! Se ela visse um ponto que não tinha sido bem dado, ela era capaz de desmanchar tudo e voltar a fazer de novo com a mesma paciência inicial. O mesmo se aplicava às cartas que escrevia. A letrinha dela era tão perfeitinha, tão simétrica, tão bonita que, se acontecesse ela errar uma única vez, riscar nunca era solução. Ela voltava a escrever tudo de novo e ela escrevia que se fartava para toda a gente autênticos testamentos (acho que nos testamentos também saio a ela!).
Outra coisa que admirava nela era o perfecionismo que ela sempre teve. Antes da morte do meu avô, ela bordava. Chegou a fazer toalhas e toalhas e também sabia costurar. E quando algo estava roto, ela dava sempre um jeitinho. As costuras dela eram reconhecidas a léguas, pelo menos por mim. Os pontinhos eram tão bem dados, tão simétricos que, quem olhasse poderia apostar que tinham sido feitos à maquina. Ela era muito minuciosa, às vezes até de mais! Se ela visse um ponto que não tinha sido bem dado, ela era capaz de desmanchar tudo e voltar a fazer de novo com a mesma paciência inicial. O mesmo se aplicava às cartas que escrevia. A letrinha dela era tão perfeitinha, tão simétrica, tão bonita que, se acontecesse ela errar uma única vez, riscar nunca era solução. Ela voltava a escrever tudo de novo e ela escrevia que se fartava para toda a gente autênticos testamentos (acho que nos testamentos também saio a ela!).
Quando alguém engravidava, ela prontificava-se logo em enviar uma lista infindável de nomes para menino e para menina. Lembro-me que numa das vezes que a minha tia F. engravidou, ela mostrou-me a lista de nomes que ia enviar... Era cá com cada nome!!!! Quem conhece o nome do meu pai "Auditon" ou do meu tio "Amilcar", ou das minhas tias "Dídia Isabel e Ercília Nivéria", que infelizmente faleceram muito antes de eu nascer, consegue por um pouquinho calcular que nomes ela escreveu. Tudo o que era normal ela não gostava! Ela queria que fossem nomes únicos (estranhos, mas únicos!). Quando lhe disse que estava grávida de uma menina, perguntei-lhe que nome haveria de dar a ela. Podia ser que ela tivesse uma boa sugestão... Ela ficou de pensar (já não estava no auge da sua criatividade!) e acabei por ser eu (e o pai) a escolher Matilde. Ela não gostou nada do nome, porque no tempo dela, havia uma Matilde que morava em Santo António Nordestinho, que era muito, muito pobre, e Matilde era um nome que ela associava à pobreza... Mesmo depois da Matilde nascer, ela esquecia-se do nome dela e quando lhe dizia qual era, ela repetia essa história da Matilde pobrinha lá de Santo António...
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