Contei aqui que entrei na tuna feminina da minha Universidade - a Autúnama - e por lá permaneci durante 2 anos. Tocava viola. Não percebia muito do assunto, mas todos os dias treinava para poder ter maior agilidade nos dedos e poder dedilhar e tocar cada vez melhor o reportório que me deram. Eram umas 4 ou 5 músicas que tinha de saber tocar perfeitamente bem e foi a elas que me agarrei.
Nos primeiros meses de tuna sofri muito com aquelas que já lá estavam. Quem entrava para a tuna não entrava na verdade. Ficava 1 ano à experiência e depois é que passava a caloira da tuna. Portanto eu era apenas uma pretendente à tuna. Fui praxada até mais não poder por causa da minha pronúncia e, possivelmente porque era das pretendentes que estava sempre lá. Na mesma situação se encontrava a minha amiga-irmã Paula que, como eu, também estava sempre enfiada na tuna, numa sala qualquer a ensaiar, a inventar músicas,... Como éramos as 2 mais presentes e éramos ambas pretendentes, andávamos sempre juntas, como forma de nos apoiarmos uma à outra. Isto implicava que quando se lembravam de praxar alguém, praxávam-nos às 2 ao mesmo tempo! Quando chamavam uma chamavam a outra também. Éramos tipo o Tico e o Teco.
As duas demos tudo pela tuna: não faltávamos a um único ensaio, íamos sempre às atuações, treinávamos tanto para fazermos boa figura (e não nos praxarem!) sempre, sempre, sempre,... e mesmo assim éramos praxadas mais que as restantes pretendentes. Até que houve um dia, em Maio, julgo que de 1998, tiraram uma semana inteira para nos "cegar"! Fazíamos de tudo um pouco. Eu refilava sempre, mas fazia... Não era à toa que me chamavam "açoriana refilona"! Íamos buscar o tabuleiro de comida para as efetivas na tuna, íamos buscar as bebidas que elas quisessem, nas atuações levávamos os nossos instrumentos e os das nossas madrinhas (e às vezes de mais alguma!). Eu tocava viola, a minha madrinha também, portanto eram logo 2 violas que levava comigo sempre. A minha madrinha da tuna pedia-me para andar sempre com linha e agulha e engraxador, caso alguma coisa acontecesse no seu traje. Era a Paula que fazia serenatas a camarões pela cantina inteira, era eu que fazia serenatas a um namorado de uma delas sem poder olhar para ele,... lembro-me que houve um almoço em que a comida era rissóis de camarão com arroz e batata frita. Nesse almoço, comemos as 2 sentadas no chão e a comida estava em cima da cadeira. Tiraram-nos os talheres. Eu comi sandes de batata frita e a Paula sandes de arroz. Foi nesse mesmo almoço que cantámos as serenatas que falei em cima. Nessa mesma tarde, elas levaram-nos para uma sala. Sentámo-nos na secretária do professor e elas ficaram sentadas à nossa frente, como que se tratasse de um julgamento... e era, nós é que não sabíamos!
A Paula chorava com muita facilidade, eu não (naquela altura!). Bastou acusarem a Paula de que ela tocava cavaquinho muito alto porque queria sobressair-se das efetivas para ela chorar. A mim disseram-me que, antes de uma atuação, tinha desafinado a viola de uma colega que dava entrada para uma das músicas para poder ser eu a dar a entrada. Antes de uma das nossas atuações ela tropeçou nas escadas e a viola desafinou e quando ela deu a entrada na música a viola dela estava completamente desafinada. Então tinha sido eu a desafinar a viola dela e a empurrar-lhe pelas escadas abaixo!!! Eu estava a achar aquele cenário muito estranho e não estava a acreditar no que estava a acontecer, só me dava para rir e só pedia à Paula para não chorar... Piorou quando elas disseram que por causa desses 2 motivos não podíamos entrar na tuna! A Paula aí parecia uma Maria Madalena e implorava por ficar, que faria tudo o que quisessem... E eu continuava a rir-me (os nervos dão-me para rir!)... Mas elas tanto insistiram com esse cenário que eu, de raiva já (porque aquilo era uma injustiça e eu não lido bem com injustiças!), comecei a chorar ao mesmo tempo que dizia "não desafinei viola nenhuma e não empurrei ninguém!"... Só nesse momento elas "baixaram armas" e deram-nos os parabéns porque tínhamos passado a caloiras da tuna...antes do tempo previsto por tudo o que tínhamos feito até à data (e muito mais que merecido, diga-se de passagem!)...
Se as praxes acabaram?! Não!!! Mas ficaram bem mais leves e menos frequentes!... Valha-nos isso! :)
:) Por acaso eu fiz um imenso esforço para nunca chorar nas praxes porque acho que choro facilmente. :) Fiz um esforço descomunal e, quando não chorei na parte mais difícil, nunca mais tive vontade e passei o resto das praxes extremamente descontraída. :P
ResponderEliminarDepois de tudo, fartamo-nos de rir com aquilo e ficamos com recordações giras. Bem... estás quase a fazer-me sentir saudades das praxes que foram, felizmente, muito giras.
É bom sinal sentir saudades... significa que fomos felizes! 😊
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