Em Santo António Nordestinho, onde vivi toda a minha infância feliz, havia uma casa, 3 casas abaixo da minha, onde moravam 2 irmãs solteiras. A casa delas foi a minha segunda casa. Entrava lá na maior, sem vergonha nenhuma. Eram amigas da minha família e, sempre que a minha mãe tinha de ir a Ponta Delgada, era com elas que ficava. Quando saia da escola, às vezes parava lá e perguntava o que era o almoço. Rapidamente elas diziam-me que era ovos estrelados (caseiros) com batata frita, porque sabiam que eu gostava e queriam era ter-me lá com elas. E lá ia eu para o balcão da casa esperar pela minha mãe passar para lhe dizer que ia almoçar lá... Tanta vez que fiz isso... Elas tratavam de mim como "a sua menina". Faziam uns biscoitos caseiros divinais, que eu punha no chá e comia. Foram elas que me ensinaram esta especialidade. Ainda hoje gosto, mas os da altura é que eram mesmo bons. Eram a Alzira (o nome dela era Elzira) e a Regina (o nome dela era Eugénia, nunca percebi a alteração do nome).
Foi com elas que aprendi a fazer malha (hoje já não sei!) e passava muito tempo do meu dia num quartinho da casa delas, onde elas se juntavam para fazerem trabalhos de malha, costura,... Saudades desses momentos felizes...
Havia outra irmã delas, que era casada, que também entrava no rol dos biscoitos, chamava-a de tia Raquel (mas não era minha tia de verdade!) e morava noutra casa, onde se faziam os biscoitos. Ao marido chamava-lhe "avô"! Era o meu terceiro avô. Não sei explicar porque os chamava assim, mas sempre me lembro de considerá-los todos da minha família. Estas 4 pessoas, infelizmente, já faleceram e deixam no meu coração muita saudade...
Existe uma irmã que é viva, a Arménia, que por ter sido enfermeira e mais nova, vivia em Ponta Delgada (hoje vive em Santo António, na casa que foi das irmãs), por isso, apesar de gostar dela por igual, não convivia muito com ela, exceto quando ela ia visitar as irmãs nas suas folgas. Ela salvou-me a vida numa das vezes que fui operada. Fiz uma cirurgia relativamente simples aos 7 anos. Antes da cirurgia começar, a Arménia ficou sempre comigo, e eu não parava de lhe dizer "Arménia eu vou morrer! Eu sei que vou morrer!" Lembro-me perfeitamente disso! Quando terminou, foram-se todos embora lá da sala, menos ela, que ficou no recobro comigo a arrumar as coisas da cirurgia. Quando de repente olhou para mim, contou-me ela, viu-me roxa, com dificuldades em respirar. Aplicou-me uma coisa qualquer que me fez vir a mim. Ela acha que foi alguma reação à anestesia. Eu só sei que se não fosse ela, hoje poderia não estar aqui a escrever este episódio da minha vida...
A ela devo a minha vida, e toda a amizade que sempre demonstrou ter por mim e por toda a minha família faz com que a admire sempre mais e mais e a considere membro da minha família ainda hoje e para sempre.
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