sábado, 7 de maio de 2016

"Devia ter cara de quê, extraterrestre?"

Depois de ler isto (aproveito para dizer que vale mesmo a pena!), recordei algumas pessoas que conheci e que lutaram pela sua vida, umas safaram-se e outras nem por isso...
O cancro é mesmo um bicho estúpido e cruel! Já o disse aqui e repito as vezes que forem necessárias! Não vejo qualquer vantagem nele, nem qualquer fonte de orgulho. As pessoas que, infelizmente, são diagnosticadas com o bicho, e que decidem lutar dia após dia é que são umas guerreiras. A maneira de encararem a vida é que deve ser fonte de orgulho para quem é diagnosticado agora e para quem os rodeia. 
Aprende-se a valorizar a vida?! Aprende-se sim senhor, mas não é por causa do cancro! Se sobrevivermos a um acidente grave de carro, como um amigo meu foi, o P. (ninguém sabe como ele conseguiu sobreviver), também se aprende a valorizar a vida! Por isso não podemos dar ao bicho esse gostinho para se vangloriar!... Eu odeio o cancro e odeio que as pessoas tenham de passar por ele, lutar contra ele, qualquer que seja a idade, cor ou feitio. Bom, para falar a verdade, as pessoas más, que fazem mal a outras pessoas, podem até merecer um bicho destes para estarem ocupadas com coisas mais sérias do que fazer mal, mas até as pessoas más devem ter o seu lado bom, devem ter família que, indiretamente, também vai sofrer com isso... Já lhes basta sofrerem por saberem que são más?! Digo eu....
Bom, depois de ler este diálogo entre 4 jovens que foram diagnosticados com o bicho na infância, o que perderam, como lidaram com a situação, o que mudou, recordei a minha vida antes dele e depois dele. Sequelas físicas não tive, pois não fui a personagem principal. Ele teve. Mas está vivo e isso é o que realmente importa. Se isto é dar importância às pequenas coisas, que seja! Obrigada meu Deus por ele estar vivo!
Antes do bicho eu vivia. Tinha o meu trabalho. Tinha o meu namorado. Sorria muito. Era feliz. Tinha o meu casamento marcado e estava a 2 meses de o concretizar. 
Durante 10 meses uma nuvem negra pairou sobre a minha cabeça e teimava não sair. A minha vida parou. Tinha o meu trabalho. Tinha o meu namorado. O casamento foi adiado. Apesar disso, eu sorri muito também, porque a cada conquista eu permitia-me festejar. Fui feliz, com algumas visitas de infelicidade. O que interessa é que eu aprendi a lidar com isso.
Depois do bicho eu reaprendi a viver. Aprendi a valorizar as pequenas coisas da vida. Tenho o meu trabalho, que por acaso é o mesmo, apesar de ser noutra área. Tinha o meu namorado, que passados 2 anos virou marido. Hoje sorrio muito. Sou feliz. E aquilo que mais me dá prazer nesta vida são aqueles momentos quando me sento à mesa com toda a minha família (se não for toda, pelo menos o meu "núcleo duro"!)... Sinto-me completamente feliz nesses momentos. É como se significasse apenas isto "apesar de tudo o que já passámos, estamos vivos e unidos mais que nunca. Aproveitemos!". Sei que algumas pessoas até podem pensar que estou a ser egoísta ao pensar assim, por preferir este programa a uma saída com amigos, ou outro programa qualquer. Só vos peço uma coisa "julguem-me apenas se passarem pelo mesmo", só assim irão compreender o que vos tento transmitir.
O bicho, esse monstro, só é capaz de uma coisa em mim: fazer-me odiá-lo cada vez mais e com mais força!

"Hoje ainda há pessoas que não acreditam quando digo que tive cancro. Olham para mim tipo ‘meu, mas és igual a nós!’. Devia ter cara de quê, extraterrestre?"

2 comentários:

  1. Infelizmente parece que cada vez são menos as famílias que nunca tiveram que lidar com esse "bicho".


    Isabel Sá
    http//brilhos-da-moda.blogspot.pt

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