segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Fui aluna de um escritor conceituado de Portugal

Confesso que, com a entrada na tuna, a partir do meu 2º ano da universidade, a minha frequência às aulas diminuiu consideravelmente. Embora os meus pais tenham uma ideia aproximada disto, imagino que esta minha confissão não os vai deixar muito orgulhosos de mim. Cabe-me, neste momento, recordá-los que fiz os 4 anos de curso + 2 anos de estágio sem perder um ano que fosse e deixando apenas 1 cadeira para fazer no ano seguinte. Portanto saldo mais que positivo! :) E além disso, já se passaram 14 anos! :P

Estava eu em pleno 3º ano da universidade quando numa das aulas que eu fui, de Literatura Portuguesa (daquelas que têm tudo para serem consideradas aulas de seca!), estava um professor já em idade avançada sentado na sua secretária de professor a dar a sua aula. Era alto, cabelo grisalho (diziam que em novo era loirinho), de olhos azuis (muito parecidos com os do meu avô materno) e de um aspeto tão fofinho, tão simpático, tão tudo que me encantou. Falava baixinho, tão baixinho que a dada altura, quem estava no final da sala queixava-se que não o ouvia (ainda hoje acho que deviam estar no gozo com o senhor!). Vai dai, passou a haver uma grande caixa que colocaram ao lado da secretária (coluna de som) e ele pegava no microfone e assim deu muitas aulas... Inédito! Nunca tal tinha visto! Este processo foi adotado por ele e por outra minha professora, também já velhinha (a Dra. Arlete!)...

Ficou viúvo na altura que foi meu professor (1998), mas ouvia-se que, em novinho, quebrou muitos corações lá pela universidade... Foi meu professor um ano letivo inteiro. Simpatizava com ele... Fui a exame, mesmo assim... e para não ter de esperar pelo resultado em Lisboa (queria era vir de férias para os Açores), falei com ele de forma a encontrarmos um jeito para eu saber da nota da cadeira dele. Caso eu chumbasse teria de regressar novamente para fazer o exame da 2ª fase, em setembro. Ele, muito atenciosamente diz-me para não me preocupar, dá-me o seu contacto fixo de casa (na altura telemóveis eram ainda uma raridade!) para lhe ligar por volta de um dia que ele achou que já teria o meu exame corrigido. Assim fiz e foi ele que me informou da nota que eu tive.

Até quase ao final do ano, e como não ia a muitas aulas também não apanhava os comentários que partilhavam sobre ele, nem o nome dele sabia, andei sempre na ignorância (e eu já sou distraída por natureza!). Para mim ele era um professor como outro qualquer que tinha na universidade (este mais fofinho!), até ao dia que, vendo um colega a ler um livro, perguntei-lhe o que estava a ler e de quem era. Respondeu-me "<Noite Roxa> do nosso professor". WHAT?! Nosso professor?! Quem? Quem? Nada mais nada menos do que o nosso professor de Literatura Portuguesa, o grande Urbano Tavares Rodrigues, humanista e escritor. É que ele não escrevia livros tipo "Fulano tal defende isto... fulano tal defende aquilo" (como muitos professores escrevem e vangloriam-se dos seus livros que não passam de trabalhos de investigação, pois isso eu também sei fazer!), ele escrevia mesmo livros com histórias de princípio, meio e fim (e eróticas, por sinal!). A partir desse momento, passei a admirá-lo ainda mais pela pessoa humilde e simples que era e que sempre mostrou ser, pelo menos comigo, embora ainda não tenha lido nenhum livro dele. Estou a falhar, eu sei!... 

Faleceu a 9 de Agosto de 2013...

A propósito, tive nota positiva (já não me lembro qual, mas não necessitei de ir ao exame da 2ª fase)!
(Era fofinho, não era?!)

(Um entre muitos outros livros que escreveu...)



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