Depois do cenário para o qual não estava minimamente preparada (este aqui), o Dr. Chaled Al-Kadri diz: "Mãe, beijinho na Matilde e até já!". Dei-lhe um beijo e, instantaneamente, deixei de conseguir falar. Olhei para o meu primo e, já de lágrima no olho (e na cara toda!), "pedi-lhe" (com o meu olhar!) para ele cuidar da minha menina... Sai com uma enfermeira que me acompanhou e me disse qual era a porta por onde devia entrar quando tudo acabasse...
Vagueei um pouco pelo corredor, com o Sr. Santo Cristo na minha mão (sempre!) à procura de uma saída. Mas, com medo de me perder e nunca mais encontrar aquela porta branca (sentia-me bastante desorientada, como se estivesse a andar por cima de um chão irregular!), sentei-me no chão daquele corredor e pus o meu telemóvel a carregar para que quando ela acordasse pudesse distraí-la com os jogos que tenho lá gravados para ela. Nesse momento não tinha de ser mais forte. Podia chorar sem que ela me visse, sem que a provocasse medo. Deixei-me ir pelo meu medo e permiti-me chorar. Chorei continuamente. Rezei, olhei para Ele, apertei-O na minha mão como se estivesse a agarrar-me à minha filha, à sua própria vida.
Não consigo imaginar o tormento que sentem os pais das crianças que são operadas durante longas horas... Os meus pais... como sobreviveram a mais de 6h de operação do meu irmão?!
Imaginava o que lhe estavam a fazer, como,... Aparecia um flashback da minha própria vida... Como ela ficaria depois daquilo?! Como ela iria reagir?!
Via fotos dela... vídeos... Ouvia a sua voz... Fechava os olhos e sentia o seu cheiro...
Chamem-me o que quiserem... Mas acima de tudo sou "mãe" e sou, orgulhosamente, mãe de corpo e alma. Mãe a tempo inteiro, mesmo que, por vezes, longe fisicamente. Sou mãe desta pessoinha, desta "nica de gente" (como a apelidava quando andava na minha barriga ainda, por ser tão pequenina!) que amo mais que a minha própria vida. Sou a mãe dela e isso dá-me o direito de poder viver para ela e com ela...
Dali a pouco mais de 25 minutos (os mais longos da minha vida!) só oiço alguém a dizer "Já está!". Era o Pedro. Tinha terminado. E ele vinha confiante, sorridente. Respirei de alívio. E já só queria era estar com ela outra vez, vê-la, tocá-la, tê-la no meu colo...
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