terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Comidas que me fazem viajar...

Desde que o tempo começou a esfriar que me tem apetecido beber chá quentinho. E, se sinto fome, adiciono biscoitos.
Bom... sempre que como chá com biscoitos viajo no tempo. Lembro-me da minha infância. Lembro-me da Alzira, da Regina, da minha "tia" Raquel. Lembro-me que elas faziam biscoitos caseiros e sempre que ia à casa delas (por norma era a minha segunda casa lá em Santo António), que era quase diariamente, pedia para comer chá com biscoitos. Era chá com biscoitos e ovos estrelados, dos caseiros... Que saudades de ser mimada por elas.
A tia Raquel viva noutra casa com o seu marido, a quem eu chamava de avô. Nem ele era meu avô e nem ela era minha tia, mas tratava-os assim. A tia Raquel era irmã da Regina e da Alzira, que moravam juntas. A Regina era viúva e a Alzira solteira. Não tinham filhos, por isso "adotavam" as crianças que, como eu, gostavam de estar com elas. Sei que a minha tia Dídia também passava muito tempo com elas quando era pequenina. E o que tinham elas de especial?! Tratavam-me bem! Davam-me miminhos! Ensinaram-me a fazer crochê (hoje já não sei!), davam-me para comer aquilo que eu quisesse, tinham fotografias minhas espalhadas pela casa, como se fosse neta, faziam-me vestidos de lã (lembro-me que tive um que eu adorava azul e cor-de-rosa!) e roupinhas para as bonecas. Deixavam-me ir com elas ao galinheiro, ao quintal, tinham um cão que também era "meu", mas que quando estava na rua não me ligava nenhuma...

Quando saia da escola primária, parava sempre em casa delas para saber o que era o almoço, antes de ir para casa. Muitas vezes, se calhar elas já não tinham para mim (não tenho muita noção!), e diziam que era ovos estrelados com batata frita, porque sabiam que eu gostava e queriam que eu lá ficasse. Ia para o balcão da casa delas e esperava pela minha mãe passar para lhe dizer que ia almoçar lá. Às vezes calhava e que feliz que eu ficava! :)

A tia Raquel era a esposa, dona de casa dedicada e costureira. A Regina era a trabalhadora. Aquela que tanto ia para a terra como ia para a cozinha ou fazia crochê, sem problema nenhum. A Alzira era a "menina" da casa. Era quem sabia fazer crochê e tratar dos animais, principalmente do cão e, mais tarde, do gato que adotou. Era a mais magrinha e pequenina de todas. Chegou a uma altura que já lhe pegava ao colo, na boa. Devia ter, sei lá, uns 40kg, no máximo... Era a mais foliona, divertida e enchia-me de beijos. Das 3, foi a última a ir embora, se não me falha a memória, partiu há uns 4 anos...

Hoje, nenhuma delas está fisicamente entre nós, mas residem no meu coração. E sempre que como ovos estrelados caseiros ou chá com biscoitos sinto-as tão pertinho de mim... 

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