segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Se existem anjos?!

Existem e eu conheci-os!
De Abril de 2008 a Janeiro de 2009 estive eu e a minha família nas mãos de anjos na terra (já falei disto aqui)... Uma equipa médica (desde médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar, do secretariado,...) digna de louvar e levantar as mãos a Deus para agradecer a existência das mesmas.
Quando estamos numa situação de risco o melhor que temos a fazer é entregarmos a nossa vida nas pessoas que cuidam cientificamente de nós, lutar com as nossas forças para ajudá-los a ajudarem-nos e ter fé de que tudo ficará melhor. Foi isto que fizemos e foi isto que, principalmente o meu irmão fez.

Desde o primeiro momento em que estivemos com o Prof. José Casanova que sentimos elevada empatia e segurança de que ele poderia ajudar o meu irmão. Ele é afável, a simpatia em pessoa, é humano e do melhor que temos em Portugal para os tumores ósseos. A verdade é que queríamos que ele tivesse dito que tudo aquilo tinha sido um engano e que o meu irmão estava bem, mas não foi o que aconteceu e, mesmo assim, ele encorajou-nos a lutarmos juntos como família contra um bicho grandioso e disse-nos que sim, que era possível vencermos. Foi a isto que nos agarramos! A ele e a cada palavra que nos dizia sempre que nos cruzávamos nos corredores.

Até à cirurgia de remoção do bicho, e depois da mesma, ficámos entregues à sabedoria médica do Dr. Paulo Tavares. Ele é o melhor que já vi na área dele. Se por um lado ele parecia ser um Dr. House, em que a simpatia e sensibilidade eram abaixo de zero, por outro víamos um homem que gostava de vencer sempre, um verdadeiro lutador! Sentia que ele ficava ali lado a lado com cada doente a lutar para que o mesmo vencesse e, quando isso não acontecia, falar com ele não era definitivamente uma boa opção. O melhor era manter a distância razoável... Ao mesmo tempo que tinha sempre a resposta na ponta da língua (mesmo que às vezes o seu humor não fosse o nosso!), também era capaz de passar por nós sem mesmo dar conta de que estávamos mesmo ali... Dizem que os mais inteligentes têm as suas pancadas e ele tinha muitas. No entanto, mesmo de férias, ele nunca deixava de passar no hospital, nem que fosse apenas 1 vez por semana para controlar o andamento da coisa. E eu sempre admirei isso nele. Mesmooooo!

Os enfermeiros, qualquer um deles, sempre mostraram elevada entrega aos seus doentes. Dedicação e entrega, carinho e amizade eram sempre uma constante. Eles nunca levavam os seus problemas para o trabalho, mas acredito que levavam cada caso para casa, acredito que muitos sofriam com a perda de algum e ficavam felizes com a vitória dos outros. A qualquer pedido de urgência, era só chegar ao corredor e apanhar um qualquer que estivesse a passar, puxar pelo braço e lá iam eles ajudar. Tanta vez que isso acontecia...

Na altura aquela unidade estava localizada no Edifício B do Hospital Universitário de Coimbra (hoje é mesmo no hospital). Era um edifício velho de 2 pisos, sendo apenas o 2º piso para os tumores ósseos e de tecidos moles. Parecia um antigo liceu. Havia um grande hall de entrada, onde o meu irmão, antes da cirurgia, almoçava, lanchava e jantava todos os dias (ele preferia ali, pois sempre respirava um pouco de ar puro, pois ele não suportava os cheiros intensos da comida! Era tipo as grávidas com os cheiros!). Subíamos umas escadas em U, entrávamos por um pequeno corredor e depois do fim do mesmo havia uma porta. Depois dessa porta, havia um corredor de madeira grandinho (mas não muito grande) à esquerda e outro igual à direita. Em frente era a sala de convívio, que tinha uma televisão e várias mesas e cadeiras (todo o mobiliário foi oferecido pelos doentes que por lá passavam)... Ao lado era a sala de enfermeiros, onde normalmente eles estavam. Nos 2 corredores haviam os quartos onde estavam os doentes. Cada quarto grande tinha 6 camas. Dividir um quarto com mais 6 pessoas de várias idades, em que um queria ouvir música, outro queria ver televisão, outro não queria fazer nada, outro falava alto, outro queria o silêncio, não é fácil! Os horários das visitas eram mais flexíveis do que no próprio hospital e ainda bem! A comida vinha de carrinha e subia pelo elevador. Ao fundo do corredor do lado direito estavam os gabinetes dos médicos e dos enfermeiros. Durante a semana, os doentes eram acompanhados por psicólogos e recebiam visitas de irmãs que falavam com eles e quem quisesse podia comungar.

Era um piso pequenino para a procura que, infelizmente, existe, mas naqueles 2 corredores existia amor, fé e muita procura desesperada pela saúde... Naqueles 2 corredores andavam de um lado para o outro todos os ANJOS que ajudaram o meu irmão (e todas as outras pessoas que por lá passaram) a vencer e a minimizar os momentos menos bons que ele passou...

Obrigada equipa!
Vocês deviam ser imortais!


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