quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Histórias minhas de Natal VI: "Primeiro Natal de casamento"

Decorria o ano de 2010... Poderia ter sido um Natal que, apesar de diferente, poderia ter sido muito feliz, mas não foi!... Vai ficar marcado no meu coração e memória para sempre... Exatamente um mês antes do dia de Natal tinha perdido a minha tia (mulher do meu tio paterno), por morte súbita. Foi um verdadeiro choque para nós... O meu tio e primos estavam arrasados, como era natural. O ritual de passar a noite de Natal em casa dos meus tios morreu no dia que a minha tia nos deixou, embora para mim fosse já um dado adquirido a partir do momento em que me casei...

Na véspera de Natal desse ano, iniciei um novo ritual na nossa casa (minha e do meu marido). Um almoço de Natal mais elaborado só para nós os 2, visto que nem o jantar/ceia desse dia, nem o almoço ajantarado do dia de Natal passamos em casa...

Na noite de Natal rumamos, eu e o namorido, para Ponta Garça, passar a ceia de natal junto com a nova família. Foi uma noite diferente para mim onde senti que também eu fazia parte do clã Medeiros. Apesar disso, senti muito a falta dos meus pais e irmão. Acho que é natural! Passei a vida toda a passar a noite e o dia de Natal com eles e, de um momento para o outro, deixo de estar com eles nesta noite e deixo de ter os tais rituais habituais... De qualquer forma, tentei abstrair-me e entrar no espírito de Natal. A tradição lá é diferente. O jantar acontece pelas 20h/21h, mas prolonga-se pela noite dentro. Até à meia-noite estamos lá sentadinhos à volta da mesa comendo, conversando,... 
A minha sogra (já o disse aqui) cozinha divinalmente bem. Enche aquela mesa cheia de comidas deliciosas. Eu acho até que ela passa o dia 24 inteiro (se não também o dia 23) na cozinha para ter tudo prontinho para receber a família numa noite especial. No jantar, normalmente, é servido um bacalhau que é feito com batata frita (que por acaso dá imenso trabalho, mas ela faz porque sabe que a maioria gosta!), mas também é servido um prato de carne, que normalmente é bifinhos com cogumelos, mas pode ser também outra coisa qualquer, desde que ela ache que as crianças gostem. Depois, na sobremesa ela tem uma particularidade (e não apenas na noite de Natal!): ela faz sobremesas para todos... Normalmente faz gelatina porque a minha M. gosta; faz alguma sobremesa com natas e chocolate, porque o genro, o filho,a  filha, eu e o neto gostam; faz algo mais light para que o marido também possa comer sobremesa (ele tem de ter cuidado com os doces por causa dos diabetes!); faz um gelado que já é típico lá em casa, porque sabe que o neto gosta; às vezes faz a tarte de maçã porque além do marido poder comer, sabe que eu gosto,... então fica a mesa novamente cheia de coisas boas para todos comerem... Basicamente saímos da mesa a rebolar... 
Depois de comermos, fazemos toda aquela encenação da chegada do Pai Natal, na altura por causa do T., hoje também por causa da M. e do V., para que a magia do Natal também esteja por lá... Nesse ano foi a minha cunhada e minha sogra colocar os presentes debaixo da árvore. E vamos para a sala "museu" (também existe uma sala "museu", daquelas que só se usam nessa altura, na casa dos meus sogros!), onde a minha sogra monta a árvore e onde estão as prendas. Por lá ficamos durante, pelo menos, às 2h da manhã... 
Existe uma tradição muito própria naquela freguesia, da qual não sou lá muito fã, pois para mim Natal é estar em casa com a família, união, amor, paz (disse-o já aqui!)... Após a reunião familiar, os mais jovens saem das suas casas quentinhas, onde estão com a sua família, para andarem de casa em casa a desejar um Feliz Natal uns aos outros (algumas pessoas inclusive vêm abrir a porta de pijamas, pois já estavam na cama a dormir!). Em cada casa bebe-se, come-se, dão-se gargalhadas, trocam-se palavras... Não é preciso dizer que no fim da noite, ou melhor, na manhã dessa mesma noite, alguns já não estejam em perfeitas condições... Como já referi, não é uma tradição que ache muita piada...

No dia seguinte, em virtude da morte da minha tia, o ritual mudou e deixamos de ir para a casa dos meus padrinhos na Lomba da Maia, para não deixarmos o meu tio e primos sozinhos no dia de Natal. O almoço ajantarado de Natal passou, a partir desse ano, a ser em casa dos meus pais. Não estávamos felizes, cheios de sorrisos e tal, pois faltava-nos aquela que tinha uma gargalhada que se ouvia no Nordeste. Mas estávamos juntos. Eu, o namorido, o meu irmão, os meus pais, o meu tio, os meus primos, a minha avó paterna e a materna. Nesse dia, a tradição é o perú na mesa, com o recheio que eu amo. A minha mãe está a ficar uma perita a fazer o perú. Igualzinho ao da minha avó da Lomba da Maia... A casa está aconchegante, cheirosa, cheia de velinhas acesas, mesmo em ambiente natalício... Nesse ano, na hora de abrirmos os presentes (por já não haver crianças, os presentes já estavam debaixo da árvore!), não consegui resistir e chorei. Abracei-me à minha mãe e chorei... Não conseguia parar... A falta de alguém querido ali ao nosso lado, as mudanças que em tão pouco tempo aconteceram na nossa família fez-me sentir saudades e desejar que tudo ficasse melhor...um dia...

(Foto do nosso primeiro Natal juntos, na nossa casa, em 2010.)

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